“Será que o tom de azul que você vê é o mesmo que eu vejo?”
O debate sobre a visão particular de mundo e também envolvendo as cores é bastante filosófico, mas para quem tem daltonismo, essa questão é genética e a interpretação das tonalidades como a maioria enxerga, é afetada por uma alteração no sistema visual. O médico oftalmologista brasileiro, Dr Ricardo Guimarães, presidente do HOlhos de Minas Gerais, informa que nos Estados Unidos, 1 a cada 12 homens pode ser afetado pelo daltonismo e entre a população masculina americana 8% é daltônica. Isso significa que a cada 200 homens, 16 são daltônicos. Já entre as mulheres 1 a cada 200 do sexo feminino pode ter daltonismo, sendo uma condição rara. Como seria enxergar as cores de forma diferente enquanto artista, será que o daltonismo é uma barreira? Para a nossa surpresa, durante conversas internas, o nosso Film Director, Gabriel Ryota falou que tinha diagnóstico de daltonismo e depois dele, mais dois artistas 3D comentaram que também tinham, o Thiago Kyoshi e o Vinícius Gonzaga. Mas e aí? Como é para o artista que trabalha com a produção de cinema, contraste, cor, design, ter uma ‘anomalia’ no sistema visual? O que eles praticam para ‘compensar’ essa diferença? Nós batemos esse papo para entender mais a respeito do daltonismo.
Ver o mundo com cores diferentes
O Film Director na ES, Gabriel Ryota, explica que hoje 90% dos projetos que ele entrega não estão agradáveis para a visão dele, mas que para a visão de uma pessoa ‘não daltônica’, está tudo bem. Passou por diversas situações desafiantes em sua carreira, optou por ocultar o daltonismo para conseguir participar de projetos grandes e importantes para a sua experiência profissional. “Trabalhei em um filme de grande visibilidade para o cinema brasileiro e um dos pré-requisitos era o profissional não ter daltonismo. Vivi um grande impasse, ou eu me calava e confiava no meu potencial, ganhando essa oportunidade ou falaria e perderia essa chance que era muito importante para a minha carreira”, recorda. O tipo de daltonismo do Ryota é a tricromacia anômola, sendo a cegueira de vermelho-verde. No filme Faroeste Caboclo, por exemplo, existia uma estrutura de colorização que era baseada no estudo de cor do cerrado. “A produção de cinema é muito mais profunda e rica em detalhes, do que a gente imagina. E pela complexidade do trabalho eu não poderia não enxergar a cor verde, como é o meu caso”, explica.
Vinícius Gonzaga, 3D Artist na ES, confessa que ninguém do seu time sabe ainda que ele tem daltonismo (provavelmente vão saber após a publicação dessa matéria).
O seu grau é leve, comparado ao do Ryota, ele não distingue perfeitamente a cor verde, tons de laranja e marrom. Descobriu que tinha daltonismo quando era adolescente durante uma aula de geografia, o mapa era metade alaranjado e a outra verde, mas ele via tudo verde.
Rotina de trabalho do artista com Daltonismo
Por conta da defasagem na visão e para existir maior assertividade, Vinícius conta que sempre trabalha com uma referência ao lado, se baseando na cor e contraste, mas que ainda assim o que é igual para ele, pode ser diferente para o outro. A compreensão sobre o significado das cores e as sensações transmitidas para diferentes culturas é um conhecimento que apoia muito o artista com daltonismo. “Se eu quero transmitir um contexto mais tranquilo, algo mais relaxante, talvez eu tenha que puxar a imagem para algo mais amarelado, algo mais aconchegante. Quando eu penso nas emoções, nas sensações que quero trazer realmente facilita, porque é possível criar um equilíbrio entre contraste, temperatura e a emoção que pretendo despertar”, explica.
Ryota destaca um ponto muito positivo entre as pessoas com daltonismo que é a capacidade de enxergar uma cena de forma macro, conseguindo harmonizar com assertividade o maior número de elementos possíveis.
“Quando o objetivo é destacar o living do empreendimento, por exemplo, ao girar a câmera para a direita, é causada uma impressão como a segurança e você se sente fixo no chão. Movimentos para a esquerda, já dão a sensação de instabilidade, dependendo da luz, se for amarelada, posso provocar enjoo, mas se tiro o amarelo, provoco uma sensação de surpresa”, exemplifica.
A expressão artística envolve inúmeros elementos que, embora a compreensão da cor tenha a sua importância, a complexidade de cada projeto, aliada à capacidade do artista de lidar com o contexto, não prejudica na entrega final, pelo contrário, a atenção se volta às emoções, cenário e na expressão assertiva dessas sensações ao cliente e público final.
A colaboração e empatia é muito importante para a pessoa com daltonismo
Ter uma visão diferente geneticamente não elimina o talento e a habilidade artística. Eles são prova disso!
O artista com daltonismo, que é uma situação incurável, precisa do apoio de pessoas próximas e, muitas vezes, dos colegas de trabalho para ajudar na interpretação correta das cores.
O 3D Artist na ES, Thiago Kyoshi, comenta que a interpretação das cores já é por si só complexa, pois pode variar dependendo do país e cultura. Para a pessoa com daltonismo, que tem essa interpretação distorcida por questões genéticas, é ainda mais desafiador.
“Meu time inteiro sabe da minha situação e tenho apoio da equipe. Sempre trabalhei com imagens de referência e com o auxílio de uma pessoa não daltônica. Quando eu tenho uma cor para bater no 3D ou no Photoshop e peço ajuda para alguém, explico que essa é a referência que eu tenho que chegar nessa cor, porque se eu optar por trabalhar sozinho, se torna complicado”, comenta.
Ryota, após muitos desafios enfrentados e de ter que ocultar ser daltônico para não perder oportunidades na sua vida profissional, não enxerga mais essa questão como um problema e consegue de forma muito tranquila ‘reprogramar’ a sua visão e ter assertividade nos projetos que desenvolve.
“Eu deixei de ver o daltonismo como uma anomalia, como uma deficiência, hoje eu vejo como um super poder, eu visto a camisa dos daltônicos”, comenta Ryota. Ao estar no ambiente certo e com as pessoas certas, que apoiam o seu crescimento, suas diferenças, não vai precisar se ocultar, apenas ser quem é e expressar o seu talento. Para além de daltônicos, vocês são elefantes!
Embrace the Challenges!
Escrito por:
Gabriel Ryota Film Director
Vinícius Gonzaga 3D Artist
Thiago Kyoshi 3D Artist
Gerente de Comunicação - Roberta Lemos | Estagiário de Comunicação – João Victor Campos Jornalistas - Daiana Barasa and Juliana Rodrigues | Naiá
Entrevistados – Gabriel Ryota - Film Director, Thiago Kyoshi - 3D Artist, Vinícius Gonzaga - 3D Artist
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